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domingo, 1 de abril de 2012

Impactos gerados pela falta de saneamento

Em 1885, quando Louis Pasteur estabeleceu a teoria dos germes, o mundo científico considerou a hipótese de que o ambiente insalubre estava diretamente ligado ao aparecimento de diversas enfermidades. Naquela época, a regra era o descarte dos efluentes a céu aberto, onde os esgotos fluíam pelas ruas como integrante natural do cenário. A população entrava em contato direto com as águas residuárias e uma série de enfermidades acometiam a comunidade (RIBEIRO 2003).

De acordo com Ribeiro (2003), a principal causa das doenças de veiculação hídrica está relacionada à contaminação do sistema de distribuição de água potável, através de interligações e sifonagens com a água não potável. O autor ressalta que esse tipo de contaminação é de fácil contenção e os estragos não chegam a grandes proporções. Quando a contaminação ocorre em uma das fases do processo de tratamento, o número de casos de intoxicações pode abranger uma grande parcela da população. Sobre esse tipo de contaminação, Kramer et al. 1996[1] e Mackenzie et al. 1994[2]; apud Ribeiro (2003, p.382) cita que
[...] em 1993 uma erupção de Cryptosporidiosis contaminou mais de 400.000 pessoas em Milwaukee, Wisconsin. Este problema foi associado à deterioração na qualidade da água bruta e diminuição simultânea na efetividade do processo de coagulação e filtração.

Os últimos 40 anos trouxeram novas patologias relacionadas com a água que até então eram inéditas na medicina. Além das doenças já conhecidas como cólera, hepatite A, esquistossomose e leptospirose entre outras, apareceram nos Estados Unidos na segunda metade do século XX, doenças causadas pela Escherichia coli, Giardia lamblia, cryptosporidium e Legionella pneumophila que não tinham ligação direta com a água (RIBEIRO, 2003).

A Escherichia coli surgiu, dentro desse contexto, na década de 1960 e a princípio, oriunda de contaminações em berçários onde se desenvolveu em vários recém nascidos. A partir desse fato, estudos minuciosos comprovaram sua relação com animais homeotérmicos, pois a bactéria se mostrou endêmica ao intestino de animais de sangue quente. A gastroenterite causada pelo agente etiológico é disseminada pelas fezes do portador e provoca diarreia líquida, náuseas, prostração e desidratação. Para reforçar essa afirmativa Ribeiro (2003, p.386) cita que
O primeiro caso documentado de doença nos Estados Unidos, associado com o enteropatogênico E. coli aconteceu nos anos 60. Vários serotipos de E. coli foram aplicados como agentes etiológicos responsáveis por doenças em crianças recém-nascidas, geralmente resultante de contaminação em berçários.

A Giardia lamblia, causadora da Giardíase, é muito semelhante à Escherichia e também surgiu na década de 1960. Na fase cística, em que o cisto pode sobreviver em condições extremas, o protozoário entra em estado de latência, ou seja, diminui seu metabolismo no intuito de reduzir ao máximo seu gasto energético, aguardando assim um momento propício, geralmente quando ingerido por um organismo homeotérmico. Os cistos, de diâmetro relativamente grande entre 8µm e 14µm, são facilmente retidos em filtros. Apesar de amplamente estudada, Ribeiro (2003, p.387) relata que
Atualmente não existe nenhum método simples e confiável para se analisar cistos de Giardia em amostras de água. Os métodos microscópicos para descoberta e enumeração são tediosos e exigem muita habilidade e paciência do examinador. Os cistos de Giardia são relativamente resistentes ao cloro, especialmente em valores altos de pH e baixas temperaturas.

Os cistos requerem muito trabalho para identificação, daí a necessidade de desenvolvimento de técnicas mais práticas para realizar a tarefa. Em solos básicos e de regiões mais frias, o cisto encontra uma resistência maior, justificando seu surgimento e adaptabilidade no hemisfério norte (RIBEIRO 2003).

A Criptosporidiose, patogenia que causa diarreia aguda, dores abdominais, vômito e febre baixa, é causada pelo protozoário Cryptosporidium. Este forma oocistos elásticos que medem cerca de 4µm a 6µm de diâmetro, tem uma natureza semelhante aos cistos de Giardia lamblia, pois são resistentes a ambientes hostis e permanecem em estado de latência até que encontrem condições favoráveis de desenvolvimento, geralmente em organismos homeotérmicos. Como foi descrito anteriormente, em 1993 ocorreu o maior surto de Criptosporidiose da história americana, onde 403.000 pessoas contraíram a doença, sendo que 4.400 foram hospitalizadas e 100 morreram (RIBEIRO, 2003).

A Legionella pneumophila, bactéria causadora da doença dos legionários, foi identificada pela primeira vez em 1976, na convenção anual da Legião Americana da Pensilvânia. Nesse evento, 221 pessoas foram contaminadas e 35 morreram. Os microbiologistas não conseguiram identificá-la no primeiro momento, apesar de uma investigação intensa nos centros de controle de doenças. Seis meses depois, cientistas conseguiram isolar a bactéria a partir do pulmão de um legionário. Em seguida, foram identificadas mais 25 variedades de Legionella. A patogenia chamou a atenção por não ser propagada de pessoa a pessoa, e sim por meio de gotículas de água, liberadas de instalações como torres de resfriamento, sistema de água quente dos hospitais e remoinhos de parques aquáticos (RIBEIRO, 2003).


[1] KRAMER, M. H. et al. Waterborne Disease: 1993 and 1994. Journal of American Water Works Association. v. 88, nº 3, p. 66-80,1996.

[2] MACKENZIE, W. R. et al. A Massive Outbreak in Milwalkee of Cryptosporidium Infection Transmitted Through the public Water Supply. New England J. of Medicine. V.331, nº 3, p. 161, 1994.


Referência bibliográfica: ARAÚJO, José Carlos de. ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA PARA IMPLANTAÇÃO DE WETLAND COMO UNIDADE COMPLEMENTAR DO TRATAMENTO DE ESGOTOS DO BAIRRO JACUÍ EM JOÃO MONLEVADE-MG. Monografia de conclusão do curso de Engenharia Ambiental na Universidade do Estado de Minas Gerais. Pág. 24 a 26. 2010

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