No decorrer dos anos, verificou-se que o real impacto sobre os corpos hídricos não era a indústria, mas sim as descargas de esgotos domésticos das cidades por onde o corpo d’água passava. Sob essa perspectiva, os órgãos ambientais redirecionaram o foco para os governos municipais, demonstrando a necessidade de tratar os efluentes sanitários descartados nos rios e congêneres.
Assim, especificamente em Minas Gerais , no ano de 2006 foi criada a Deliberação Normativa nº. 96 do Conselho de Políticas Ambientais – COPAM (DN 96) que classificou os municípios mineiros de acordo com a população e infra-estrutura em relação aos esgotamentos sanitários. A legislação também estipulou prazos para implantação dos sistemas de tratamento de esgotos, para cada grupo classificado.
O termo Wetland deriva do inglês em que na sua etimologia básica quer dizer terra molhada. Recebe vários nomes em diversas literaturas, como: terras úmidas construídas, leitos cultivados, banhados artificiais, alagados artificiais, entre outros.
Sistema com macrófitas emergentes de fluxo subsuperficial horizontal
A princípio, as Wetlands podem ser naturais ou artificiais. As naturais são aquelas que promovem a ciclagem de nutrientes sem intervenção humana, tais como: pântanos, brejos, áreas de mangues e similares. Esses locais possuem uma capacidade de autodepuração de efluentes ricos em nitrogênio e fósforo e serviram de inspiração para a criação das Wetlands artificiais, que possuem essa capacidade autodepuradora ampliada, visto que são dimensionadas para promover a ciclagem de nutrientes de forma mais direcionada e eficiente.
A tecnologia é indicada para regiões onde a densidade demográfica não é muito elevada. Por esse motivo, o subsistema do Jacuí, que receberá somente os efluentes sanitários do Bairro Jacuí, atende aos requisitos para implantação de uma Wetland. O tipo de sistema alagado mais adequado para a região é o subsuperficial de fluxo horizontal, que possui maior eficiência de remoção de nutrientes eutrofizantes, além de ter a vantagem de não gerar mau cheiro, não atrair animais sinantrópicos e ser melhor adaptável à paisagem.
As estações Wetlands são comumente usadas em países desenvolvidos, que na maioria absoluta, estão localizados em lugares de clima temperado. Essa tecnologia, devidamente adaptada ao clima tropical, certamente trará resultados mais rápidos por facilitar o metabolismo dos macro e microrganismos envolvidos no processo. O assunto ainda é relativamente novo, principalmente quando empregado em países de clima tropical.
Este trabalho traz esse foco inovador e ao mesmo tempo se relaciona com uma realidade palpável, que é a adaptação de um Wetland em uma estação de tratamento de esgotos da cidade de João Monlevade, de modo que, além da eficiência hidráulica, o tratamento seja viável economicamente. O futuro do planeta depende do desenvolvimento de pesquisas que possibilitem a interação antrópica sem prejuízos para o meio ambiente, visando assim, sua sustentabilidade.
O sistema Wetland trata-se de uma prática sustentável e economicamente viável em relação às demais tecnologias de pós tratamento UASB, pois se caracteriza por ser de baixo custo de implantação, operação e manutenção, não consumir energia elétrica no processo, além de proporcionar boa incorporação à paisagem.
Desenho esquemático de um reator UASB
Partindo do princípio de que o reator UASB não dá padrão de lançamento nos corpos hídricos, pois possui eficiência de remoção de DBO com padrão de descarte entre 60 e 120 mg/L, sendo que a legislação ambiental estabelece o valor máximo de 60mg/L. Logo, a tecnologia Wetland torna-se um importante complemento para adequar os efluentes aos padrões exigidos na legislação ambiental vigente.
Vista da área planejada.
As publicações científicas consultadas apontaram experimentos que utilizaram um sistema composto por reator UASB e Wetland apresentaram boa remoção de DBO, DQO, sólidos suspensos, nitrogênio e fósforo, e considerados patógenos.
Diante de todo o exposto no estudo, a principal prerrogativa refere-se ao fato de que o projeto proposto pela SANAG não especifica o tratamento pós UASB. Nesse contexto, a proposta de implantação da estação Wetland atenderia a demanda ambiental, pois diminuiria a carga de DBO de 83 mg/L (saída do UASB especificada pela SANAG Engenharia) para 50 mg/L (saída da Wetland projetada pelos discentes). A DN 01/2008 estipula um padrão de lançamento de até 60 mg/L, configurando os resultados teóricos dentro desta determinação.
Vista parcial de um wetland construído.
Reiterando o disposto acima, o dimensionamento realizado permitiu traçar o perfil da estação Wetland com parâmetros de cálculos eficientes, pois os dados utilizados estão bem embasados na realidade do bairro Jacuí. Logo, é possível e viável a implantação deste sistema, caso haja interesse da administração pública municipal.
Este compilado teve como produto final, um ganho didático muito grande para os discentes. Ao trabalhar um assunto pouco difundido, por meio de literaturas relativamente escassas, não foram poucos os obstáculos. Mas a ideia de relacionar o tema com uma abordagem mais real possível, com certeza foi um grande diferencial para a realização dessa monografia. Doravante, fica o sentimento de dever cumprido e a plena confiança no potencial dos discentes envolvidos nesse trabalho.
Fonte: Monografia dos discentes da 1ª Turma de Engenharia Ambiental da Universidade do Estado de Minas Gerais, campus João Monlevade: Augusto Henrique da Silva, Carolina Barcelos Silva, Dayane Cristina Taveira e José Carlos de Araújo.
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