O Brasil possui um descarte médio anual de 30 milhões de pneus inservíveis, com um passivo de 300 milhões de carcaças acondicionadas de modo incorreto. Nos Estados Unidos, os números são mais impressionantes. Com um descarte anual de 300 milhões de carcaças, estima-se que o passivo chegue a 3 bilhões de pneus inservíveis. Nesse contexto, torna-se sine qua non a elaboração de alternativas que mitiguem esse tipo de impacto ambiental. Algumas empresas cimenteiras utilizam a borracha de pneumáticos para alimentar os fornos de calcinação, aproveitando assim a energia oriunda da queima da borracha.
A utilização racional e benéfica dos rejeitos vai ao encontro das crescentes preocupações com relação à disposição ambiental de detritos, ao mesmo tempo em que se economizam recursos naturais. Dessa forma, faz-se necessário a reutilização desse passivo que só cresce atualmente – causando vários transtornos ao homem e ao meio ambiente – e que pode se tornar viável como solução da problemática dos pneus inservíveis. Embora uma parcela destes seja recauchutada, ainda é incipiente em relação à grande quantidade desse resíduo na natureza.
As carcaças pneumáticas geralmente não são depositadas nos aterros sanitários por não permitirem compactação, sendo que muitas vezes são queimadas liberando gases que contribuem para a formação de chuvas ácidas e outros problemas ambientais. As pilhas de armazenagem destes pneus também servem como local para a procriação de mosquitos, ratos e outros vetores de doenças, e ainda como agravante, temos um risco constante de incêndio.
Figura 1: Borracha triturada.
Fonte: Deliberato et al. (2008).
Para minimizar esse cenário no qual pertencemos, podemos sugerir a utilização desse passivo ambiental na pavimentação asfáltica. A borracha dos pneus, devidamente separada do aço e do nylon, é moída e adicionada à massa asfáltica. Na proporção de 15% de borracha pneumática no processo úmido e cerca de 3% no processo seco, a massa adquire várias vantagens em relação ao asfalto tradicional, onde se destaca a facilidade de modelamento e maior durabilidade. Cada quilômetro de revestimento com ecoasfalto por via úmida consome em média, de 1600 a 4800 pneus inservíveis.
Figura 2: Máquina trituradora - parte interna.
Fonte: Deliberato et al. (2008).
Processo por via úmida
A pavimentação com este tipo de asfalto, além de trazer os benefícios citados anteriormente, possui grandes vantagens com relação ao asfalto convencional:
a) maior viscosidade;
b) maior elasticidade;
c) menos sensível a variações extremas de temperaturas;
d) maior resistência à luz solar (raios UV);
e) maior resistência a intempéries;
f) envelhecimento mais lento;
g) retarda a reflexão de trinca;
h) permite utilizar traços abertos e descontínuos;
i) maior adesividade aos agregados;
j) maior poder impermeabilizante;
k) reduz o acúmulo de água na superfície da lâmina asfáltica, diminuindo a aquaplanagem.
A massa asfáltica, juntamente com 15 a 20% de borracha, é aquecida a altas temperaturas até que se forme uma liga homogênea e altamente superior ao pavimento tradicional. Atualmente no Brasil, a Petrobrás Distribuidora detém a tecnologia para elaboração do Ecoasfalto por via úmida.
Como desvantagem principal, esse processo traz o alto custo - ainda inviável para as prefeituras - por se tratar de uma tecnologia monopolizada e que demanda mão de obra muito especializada.
Processo por via seca
Nesse caso, de 0,5% a 3% da borracha entra como “carga” na massa asfáltica convencional. Segundo pesquisas, o Ecoasfalto por via seca não apresentou tanta vantagem quanto o Ecoasfalto por via úmida em relação ao asfalto tradicional. Porém, vale ressaltar que mesmo assim é ambientalmente vantajoso, pois além de agregar massa ao pavimento (economizando material constituinte) diminui-se o passivo de pneus inservíveis no município. Assim, voltamos à problemática epidemiológica citada no início desse trabalho, onde diminuindo a ocorrência desses pneus na natureza, inclusive nas cidades, grande parte dos focos de dengue atuais poderia ser eliminada
No caso de João Monlevade, a usina de beneficiamento poderia operar com uma produção diária de 150 kg de borracha triturada, que atenderia a uma demanda de 5 toneladas por dia de asfalto produzido na usina atualmente. Considerando o peso médio dos pneus em 5 kg, seriam destinados cerca de 30 pneus usados. Nas épocas chuvosas, essa demanda poderia chegar a 8 toneladas/dia, devido à grande quantidade de buracos pela cidade. Nesse caso, a quantidade de borracha poderia chegar a 240 kg, tirando de circulação, em um só dia, cerca de 48 pneus inservíveis.Fonte: ARAÚJO, José Carlos de. Projeto Ecoasfalto para João Monlevade. Projeto elaborado na vigência de estágio na Secretaria Municipal de Meio Ambiente de João Monlevade. Outubro de 2010.
DELIBERATO, E. C. et al. Programa de coleta e destinação de pneus inservíveis. Disponível em: <www.anip.com.br>. Acesso em: 16 Out. 2010.
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